Empreendedorismo Social: definição, impacto e cases

É indiscutível que “empreendedorismo” é a palavra do momento, além disso, suas vertentes como o empreendedorismo social também têm ganhado força nos últimos anos.

O empreendedorismo social ou “setor dois e meio” tem se consolidado tanto a nível nacional quanto global, como uma forma sustentável de construir uma sociedade melhor. Mais precisamente na década de 90, foi quando esse campo ganhou mais força em nosso país, pois houve uma redução considerável de investimentos públicos na área social e um aumento nas carências sociais.

Nesse panorama, a necessidade de ação fortaleceu nas pessoas a presença e influência da sociedade civil organizada, afinal, alguém precisava agir!

Segundo um mapeamento realizado pelo Sebrae em parceria com o PNUD, em 2017, foram registradas mais de 800 iniciativas de negócios de impacto social no Brasil. Certamente, hoje em dia esse número é ainda maior.

Percebe como esse ramo tem ganhado força? Por isso, produzimos esse artigo com informações relevantes para te ajudar a entender melhor do que se trata o empreendedorismo social e como esse campo influencia positivamente nossa sociedade.

O QUE É EMPREENDEDORISMO SOCIAL?

O Empreendedorismo Social permite negócios de maior impacto de melhoria para a sociedade. Ou seja, empresas que se encaixam nesse tipo de empreendedorismo existem principalmente para promover soluções que geram mudanças na realidade de pessoas e/ou comunidades vulneráveis, por atividades como:

oferta de capacitações;
oferta de emprego;
oportunidades de tratamento de saúde;
ações de preservação ao meio ambiente;
etc;

De acordo com o relatório apresentado pela Fundação Schwab, os setores que mais contam com apoio de empreendedores sociais no planeta são:

Educação
Soluções ecológicas
Atividades econômicas
Geração de empregos
Acesso à energia
Inclusão financeira
Saúde
Habitação
Direito à terra
Inclusão social
Tecnologia.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE: EMPREENDEDORISMO SOCIAL, TERCEIRO SETOR E RESPONSABILIDADE SOCIAL?

Talvez você se pergunte:

“Mas qual seria a diferença entre iniciativas como essa e as organizações do terceiro setor?”

A semelhança que precisamos compreender é que ambas lutam pelos mesmos ideais, mas, diferente do terceiro setor, o empreendedorismo social não depende apenas de doações para se manter.

Todavia, o lucro não é o objetivo central desse tipo de negócio, mas sim o valor agregado à sociedade. Ou seja, as melhorias geradas para a sociedade.

Ou seja, enquanto o empreendedor “comum” cria um negócio para obter lucro, atendendo uma demanda do mercado, o empreendedor social toma uma iniciativa para resolver um problema, atender uma necessidade social, normalmente percebida em sua localidade, na comunidade onde ele vive e ou trabalha.

No entanto, o objetivo de agregar valor à sociedade não exclui a possibilidade de, com o passar do tempo, tornar-se em um negócio que gera lucro, porém, é mais uma decorrência do propósito pelo qual empresas dessa categoria surgem.

Além disso, é preciso entender também que o empreendedorismo social é diferente de ações de responsabilidade social – práticas adotadas por algumas empresas. Para que fique fácil de compreender: todo empreendimento social pratica ações de responsabilidade social, mas nem toda empresa que concretiza tais ações corresponde a empreendimentos sociais.

Para que fique mais claro essa última diferenciação podemos tomar como exemplo a Walmart, uma multinacional americana do setor varejista que promove ações sociais através do seu Instituto Walmart. Existe uma plataforma cujo intuito é estabelecer uma maior conexão entre a companhia e as comunidades onde suas unidades estão inseridas, chamada Viver Melhor Comunidade. A Walmart busca incentivar o trabalho voluntário de seus funcionários.

Ainda que a multinacional em questão gere benefícios à sociedade e promova ações que reforcem a ética, transparência e senso de comunidade, a sua criação deu-se com o objetivo principal de obter lucro.

QUAL É O PERFIL DO EMPREENDEDOR SOCIAL?

Quando falamos em pessoas que avaliam as dores reais da sociedade e buscam formas de sanar tais problemas, sem que o retorno financeiro seja seu objetivo, mas sim a resolução das carências que nossa sociedade possui qual atributo melhor do que “EMPATIA” poderíamos utilizar como a principal característica que descreve o perfil do empreendedor social?

Ser empático é conseguir identificar enquanto humanidade e se colocar ou imaginar-se ocupando a realidade do outro. Por isso, outra característica além da empatia que podemos utilizar é ser “ATENTO” para conseguir ter a sensibilidade e visão holística da situação que gerou o problema a ser resolvido e avaliar o contexto de maneira humana. Além disso, o empreendedor social é um eterno “INCONFORMADO” com as injustiças e desigualdades.

De acordo com Drucker, “o empreendedor sempre procura por mudanças, responde a elas e explora isso como uma oportunidade”. Para alguns estudiosos, o que diferencia o empreendedorismo comum do empreendedorismo social é a motivação, dado que o empreendedor comum é instigado pelo dinheiro e o empreendedor social é estimulado pelo seu senso de justiça e altruísmo.

No entanto, Roger L. Martin & Sally Osberg, defendem que na realidade os empreendedores raramente são motivados pelo ganho financeiro, porque as chances de ganhar muito dinheiro são raras, na maioria das vezes. Sendo assim, seguindo essa perspectiva, tanto ambos os tipos de empreendedores são motivados a partir da oportunidade que identificam, e se mantêm implacáveis no que aderem como propósito, obtendo considerável recompensa psíquica do processo de realização de suas ideias.

Uma pessoa que deseja tornar-se um empreendedor social precisa combinar conhecimentos, habilidades, competências e posturas, e é claro, unir o espírito altruísta ao perfil empreendedor. A fim de reforçar o que já abordamos nesta seção, trouxemos as características de pessoas com perfil empreendedor social, de acordo com o estudo “Empreendedorismo social no Brasil: atual configuração, perspectivas e desafios – notas introdutórias”, publicado na Revista FAE.

CONHECIMENTOS –

Em tese, de acordo com Klaus Schwab, idealizador da Fundação Schwab – organização que auxilia modelos inovadores socioambientais:

“Empreendedores sociais são pioneiros em abordagens mais sustentáveis e inclusivas para modelos de negócios. Essas pessoas têm provado como empregados, clientes, fornecedores, a comunidade e o meio ambiente podem ser beneficiados quando todas as partes interessadas estão envolvidas na criação de valores socioeconômicos.”

IMPACTOS GERADOS PELO EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Vocês já aprenderam que: ao contrário do que ocorre nas empresas que adotam ações de responsabilidade social, os empreendimentos sociais têm como objetivo principal com as realizações de suas atividades o benefício à coletividade, ou seja, o impacto positivo gerado para a comunidade é a medida de desempenho para esse tipo de empreendimento.

Seus projetos são capazes de gerar melhorias na condição de vida da sociedade através da viabilização do acesso à alimentos, profissionalização, democratização da informação e cultura. Tudo isso gera desenvolvimento social, favorecendo para o bem-estar da população e preservação de ecossistemas naturais.

A influência positiva dessas ações ocorre principalmente nos três segmentos relevantes para a sociedade:

1. Educação – em locais com déficit no desempenho educacional, iniciativas de empreendedorismo social voltadas para a formação de educadores/ gestores de educação ou até mesmo a disponibilização de um tutor; geram melhoria e reforço na qualidade de ensino, assim, a longo prazo poderá ser percebido mais fortemente o desenvolvimento da região
2. Meio Ambiente – Iniciativas preocupadas com a expansão de tecnologias verdes, mercado de orgânicos, biotecnologia, análise de fauna e flora etc. são exemplos de empreendimentos que transformam positivamente a sociedade.
3. Saúde – segundo pesquisas, cerca de 150 milhões de brasileiros dependem do Sistema Único de Saúde (SUS), já sabemos que a saúde pública carece de maiores investimentos frente a demanda que o leva muitas vezes ao limite. Assim, empreendimentos sociais que atuam ofertando acesso à saúde para comunidades carentes ou distantes dos grandes centros urbanos auxiliam o Estado na garantia do acesso à saúde de qualidade às populações vulneráveis, contribuindo para que os indivíduos tenham seus dinheiros enquanto cidadão, garantidos.

COMO COMEÇAR NO EMPREENDEDORISMO SOCIAL?

O Brasil ocupa o lugar entre as 10 nações com maior atuação de empreendedores sociais. Algo que certamente devemos nos orgulhar. O constantemente desenvolvimento tecnológico e a democratização do conhecimento, tem gerado em nosso país um terreno fértil para que projetos voltados para esse ramo surjam.

Talvez você deseje se inserir nesse ramo, ou até mesmo conheça alguém que queira tornar-se um empreendedor social, mas não sabiam como começar. Por isso, separamos os cinco primeiros passos para ajudar quem almeja atuar na área:

1) Defina com clareza o problema que deseja solucionar – isso te dará uma compreensão melhor a respeito da problemática e quais são as possíveis soluções para tal;
2) Defina critérios de atuação – ou seja, determine quem poderá ser beneficiado pelos projetos?, de que forma isso acontecerá?. Esses critérios dependerão do tipo de situação que você deseja atuar, além de nortear melhor a sua ideia;
3) Escolha e organize um time multidisciplinar e bem capacitado – o propósito é gerar valor para a sociedade. Um processo desafiador! Por isso, ter pessoas multidisciplinares e bem capacitadas irá te ajudar a caminhar em direção ao propósito do seu projeto;
4) Estabeleça um modelo para a obtenção de renda – o lucro não é o objetivo principal no empreendedorismo social, porém, mapear formas de obter renda para o seu projeto auxiliará a ter poder de custear o que for preciso ao longo do processo para de fato gerar valor para a sociedade. Os custos são inerentes ao processo de atuação, isso é um fato, portanto, a renda e as formas de obtê-la precisam ser consideradas;
5) Busque parcerias com outros projetos sociais, empresas e órgãos governamentais – isso contribui tanto para que você consiga ter uma dimensão maior acerca da problemática que te encorajou a inserir-se no empreendedorismo social, quanto te dará suporte para as ações que deseja realizar a fim de contribuir para a sociedade;

Cases reais de Empreendedorismo Social:

Como forma de inspirar mais sobre o empreendedorismo social, selecionamos 3 exemplos para te mostrar alguns empreendimentos sociais que foram criados com o objetivo de mudar o mundo!

Oneworld Health

A Oneworld Health foi fundada em 2000 e é considerada a primeira companhia farmacêutica sem fins lucrativos nos EUA. Tal companhia foi criada pela Victória Hale, uma cientista farmacêutica que entrou no empreendedorismo social após questionar a dinâmica das empresas no setor. Pois, ela percebeu que não haviam investimentos necessários para doenças que causam epidemias nos países pobres dado que, ainda que as empresas do terceiro setor tivessem patentes, não lhes parecia rentável investir nessa causa pois a população desses países não possui condições para adquirir os medicamentos.

Prolíder

Exemplo de Empreendedorismo Social brasileiro? Nós temos! A Prolíder é um programa que oferece treinamento e networking com o objetivo de formar líderes capazes de conduzir mudanças tanto nos setores públicos, quanto nos setores privados. O seu fundador, Welington Vitorino, conseguiu estar na capa da Forbes na lista “Under 30”, graças ao seu trabalho com a Prolíder.

Grameen Bank

Muhammad Yunus é um dos nomes ilustres quando falamos em empreendedorismo social. Nos anos 70, Muhammad fundou o banco concedendo empréstimos a juros baixos para a população mais pobre abrir negócios pelo país. Seu principal desafio foi convencer os investidores de que o risco de inadimplência seria baixo.

Instituto Chapada

Fundado por Cybele Oliveira, mentira e líder principal da iniciativa, o Instituto Chapada é uma organização que visa ajudar a melhorar a qualidade da educação brasileira. Esse apoio ocorre através do suporte à formação continuada de professores e gestores de escolas, além de auxiliar na criação de redes colaborativas voltadas a fortalecer o ensino formal e políticas públicas de educação.

INDICAÇÕES DE LIVROS SOBRE EMPREENDEDORISMO SOCIAL

“O Banqueiro Dos Pobres”

Escrito por Muhammad Yunus nos anos 2000, o livro “O Banqueiro Dos Pobres” contém um relato de como Muhammad tornou-se conhecido pela sua iniciativa em fundar a Grameen Bank. O nome do livro faz jus a uma das formas pela qual ele é conhecido ou intitulado.

Certamente você já ouviu histórias de pessoas que tentaram obter uma linha de crédito em uma instituição financeira e relataram quão burocrático pode ser esse processo.

Quanto menor é o poder aquisitivo de uma pessoa, mais difícil é obter os créditos nessas instituições. Como fora descrito anteriormente, foi pensando nisso, Yunus fundou o Banco Grameen, em Bangladesh, rompendo com a ideia dos bancos tradicionais que não atendiam pessoas em situação de vulnerabilidade econômica.

“Comece Algo Que Faça a Diferença”

Será mesmo que o retorno financeiro é o que há de mais importante quando falamos em estruturação de um negócio?

Certamente o dinheiro é capaz de resolver muitos dos problemas de vulnerabilidades sociais, porém, não é tudo! É preciso gerar valor.

O empreendedorismo social bate muito nessa tecla e é isso que Blake Mycoskie abordará em seu livro.

Blake, em “Comece Algo Que Faça a Diferença”, mostra na prática como unir dinheiro, satisfação pessoal e melhorias sociais em um só negócio. Ele contará a história da TOMS, uma das empresas de calçados que mais cresce no mundo e que foi fundada por ele em 2006.

Você deve estar se perguntando: “Qual é o diferencial da TOMS?”. Além de comercializar o seu produto de forma sustentável, o propósito do negócio é gerar melhorias sociais a crianças necessitadas através do conceito “One for One” – a cada sapato vendido, um é doado.

Referencias

Jéssica Dantas

Estudante de Adminsitração na Universidade Federal do Ceará (UFC), é ex-colaboradora de marketing do Centro de Empreendedorismo da UFC (CEMP) e do time da Rede Global de Empreendedorismo Vórtex.